A adolescência é uma espécie de segundo nascimento, uma época em que o adolescente já não é uma criança nem ainda é um adulto, mas partilha de alguns dos desafios, privilégios e expetativas de ambas as épocas.
A adolescência era tradicionalmente vista como o período de transição entre a infância e a idade adulta, mas atualmente é mais considerado um período de múltiplas transições. Este período de transições, uma espécie de segundo nascimento, é uma época em que o adolescente já não é uma criança nem ainda é um adulto, mas partilha de alguns dos desafios, privilégios e expetativas de ambas as épocas.
Alterações emocionais e comportamentais na adolescência
A puberdade é vista como o início da adolescência, e cada vez mais esta é precoce. Apesar de alguns aspetos da adolescência ocorrerem mais precocemente atualmente, o final da adolescência é cada vez mais tardio.
A adolescência é o período por excelência da luta pela individuação e autonomia, sendo impossível ter uma plena compreensão do desenvolvimento do adolescente separado dos seus contextos biológico, familiar, comunitário, cultural e histórico.
As alterações emocionais e comportamentais na adolescência e as perturbações mentais que ocorrem nesta fase evolutiva são, pela sua frequência, impacto social e dificuldade de tratamento, um problema importante para os Serviços de Saúde Mental. É portanto essencial uma política de prevenção e informação desde a infância de forma a evitar algumas condições que levam à elevada existência de psicopatologia nesta faixa etária.
O que significa “Adolescência”?
A palavra “adolescência” deriva do latim adolescere (crescer). A palavra “adulto” deriva do mesmo verbo (adultus, ter crescido). Sendo assim, adolescência é o período de crescer e tornar-se adulto, é um processo de desenvolvimento.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) adolescente corresponde a um jovem com idade compreendida entre os 10 e 19 anos.
Epidemiologia das perturbações psiquiátricas na adolescência
Em todo o mundo, estima-se que 10-20% dos adolescentes têm doença mental, embora alguns destes não sejam corretamente diagnosticados nem tratados, assinala a Organização Mundial da Saúde, sendo que metade das doenças mentais surge aos 14 anos. Segundo a Associação Americana de Psiquiatria da Infância e da Adolescência (AACAP) uma em cada cinco crianças apresenta evidência de problemas mentais e esta proporção tende a aumentar. De entre as crianças que apresentam perturbações psiquiátricas apenas 1/5 recebe tratamento apropriado.
Quais os principais motivos de ida à consulta de Pedopsiquiatria?
Geralmente chegam à consulta por iniciativa do médico de família ou pediatra, dos cuidadores ou da escola. Raramente é o próprio adolescente que pede ajuda, embora a proporção de adolescentes que tem iniciativa desse pedido esteja a aumentar. As principais razões são:
• Problemas do comportamento
• Comportamentos autolesivos (com ou sem ideias de morte)
• Ideias de suicídio
• Problemas de afetos (fundamentalmente sintomas depressivos)
• Ansiedade
• Problemas de manutenção da atenção
• Problemas de aprendizagem
Os principais diagnósticos realizados na faixa etária da adolescência são perturbações do comportamento, perturbações depressivas e perturbações de ansiedade. Outras problemáticas que têm o seu pico na adolescência são as perturbações relacionadas com o uso de substâncias, esquizofrenia e outras perturbações psicóticas e perturbações do comportamento alimentar (anorexia nervosa e bulimia nervosa).
Prevenção de doenças mentais na adolescência
A prevenção começa com a consciencialização da existência da doença e com a necessidade de estar alerta e compreender os primeiros sinais e sintomas da doença mental. Os pais e professores assumem um papel fundamental na formação de competências dos adolescentes para que consigam lidar com os desafios do dia a dia.
É essencial um investimento governamental multissetorial (Segurança Social, Saúde e Educação) em programas abrangentes, integrados, e baseados na evidência, que consciencializem, promovam e protejam a saúde mental dos adolescentes. As intervenções que visam promover a saúde mental dos adolescentes pretendem aumentar os fatores protetores e criar alternativas para diminuir os comportamentos de risco.
A promoção da saúde mental e bem-estar ajuda os adolescentes a aumentar a resiliência, para melhor lidarem com adversidades e situações de conflito e também traz benefícios para a economia e sociedade: com adultos saudáveis a contribuir para o desenvolvimento da atividade em termos laborais, familiares, comunitários e sociais.
Exemplos de atividades de promoção e prevenção multissectoriais para adolescentes em risco de doença mental incluem:
• Intervenção psicológica individualizada, em grupo ou online
• Intervenção focada na família com treino de competências ao cuidador
• Intervenção no estabelecimento de ensino: mudanças organizacionais para um ambiente psicológico seguro, estável e positivo
• Formação em saúde mental e competências para a vida
• Formação dos funcionários na deteção e abordagem básica do risco de suicídio
• Programas de prevenção para adolescentes vulneráveis
• Intervenções comunitárias como programas de liderança entre pares
• Programas de prevenção a adolescentes vulneráveis
• Programas para prevenir e gerir os efeitos da violência sexual nos adolescentes
• Programas multissetoriais de prevenção do suicídio
• Intervenções para prevenir o abuso de álcool e de outras substâncias psicoativas
• Educação sexual para prevenir o risco de comportamentos sexuais de risco
• Programas de prevenção de violência
A prevenção na área da saúde mental deveria começar antes da conceção de uma criança, sendo essencial que, desde cedo, pais e educadores promovam ambientes de segurança e potenciem espaço para opinião da criança e promovam o espírito crítico.